segunda-feira, 12 de maio de 2008

001- A Majestade da Majestosa





Era uma vez uma sementinha do tamanho de uma ervilha que estava havia muito tempo sobre uma areia branquinha, pertinho do mar.

Ali ela ficava vendo as pessoas passando de cá para lá, e de lá para cá. Via também os animaizinhos que se aproximavam dela, cheiravam, alguns até a colocavam na boca, mas logo a cuspiam para longe pois sentiam que não tinha gosto de nada.

Assim ela ficava, um dia aqui, outro um pouco mais para ali, indo e vindo, sentindo como deveria ser bom poder se locomover, saltitar, correr ou mesmo só participar deste mundo de um modo mais ativo.

O tempo foi passando, passando, e a sementinha sempre ali, desejando que sua pequena vidinha servisse para alguma coisa melhor que essa sua vidinha tão sem sentido.

A esperança de que um dia sua vida pudesse mudar é que a mantinha cheia de vida em seu interior.

Numa tarde quente de verão, o céu de repente se transformou, encheu-se de nuvens pesadas e negras, fazendo uma escuridão tremenda.

Uma ventania muito forte subitamente começou a soprar, levantando muita poeira e jogando para os ares muitos galhos, papéis jogados pelo chão. Lá se foi nossa sementinha pelos ares, juntamente com muito lixo, girando, girando dentro de um redemoinho.

Nossa, parecia o fim do mundo, aquele vento todo não a deixava ver nada, tudo ficou muito cinza. O que será de mim agora, pensava a sementinha enquanto girava, girava, subindo cada vez mais alto em direção às nuvens.

De repente, ouviu um estrondo muito forte e logo a seguir um trovão ensurdecedor cortando os ares.
Começou a chover, chover muito e a sementinha começou a rodopiar, caindo vertiginosamente em direção ao solo novamente. Ela pensava : -"Onde será que estou indo, ou melhor caindo?"


Zummmm! zummm! Era tudo que ela ouvia, rodopiando sem parar até que após alguns instantes, pum! Caía por fim na terra.

Caía também a água da chuva sobre ela, uma chuva muito forte, tão forte que a empurrava para baixo da terra, cada vez mais fundo.

Pobrezinha da nossa sementinha, já não via mais nada. Só sentia aquela água passando por ela sem parar. Agora estava tudo escuro e a pobrezinha não entendia por que aquilo tinha acontecido justamente com ela que sempre foi tão cheia de sonhos.

Era uma escuridão completa. O silêncio também era total. A única coisa boa que lhe acontecia neste momento era aquele frescor da água passando por ela.

Novamente a sementinha se sentiu sozinha e ficou ali por mais algum tempo até que um dia percebeu que algo estava acontecendo com ela. O que seria isso? Percebeu que perninhas começavam a aparecer embaixo dela. Devem ser raízes pensou ela. Agora tenho raízes! Que coisa boa! Vou virar uma plantinha, como aquelas que conheci na época em que estava sobre a areia.

Via aquelas plantinhas balançando suas folhas , algumas se coloriam na primavera para alegrar quem as via. Como será que vou ser? Terei eu cores na primavera? Vou ser baixinha, magrinha ou gordinha? Ela não tinha a menor idéia da aparência que iria ter. Afinal não tinha nenhuma plantinha por perto para lhe dizer isso.

O tempo foi passando, passando e a sementinha foi pouco a pouco se transformando numa plantinha que foi se desenrolando, desenrolando até conseguir romper a terra que estava acima dela e se projetar para cima.

Sempre com o olhar para cima, a sementinha se sentiu muito feliz em poder continuar a crescer, subindo, subindo em direção às alturas.

Logo já se notava uma pequena arvorezinha com folhas muito verdes e brilhantes.

Suas folhas eram muito resistentes e abriam-se rapidamente, uma após a outra. Tinham uma tonalidade verde-escuro e eram tão lustrosas que até parecia que alguém passava por ali todos os dias para lhes dar o lustro.

Logo a plantinha começou a ver que onde ela crescia era um terreno muito grande com um enorme matagal a cercando. Notou também que não muito longe dali viam-se casas e mais casas. Era um bairro residencial.

Certo dia, escutou um barulho de motores de carros e caminhões se aproximando. Os caminhões estavam apinhados de gente. Olhando bem percebeu que eram homens vestindo macacões azuis carregando enxadas e foices.

- “Aonde estaria indo aquela gente toda, com tanta animação?

Não demorou muito para ela ver que rapidamente eles desciam dos carros e caminhões e começavam a se aproximar cada vez mais dela.

-“Nossa!” - disse um deles. -”Vamos ter muito trabalho por aqui!”

-”Atenção!” - gritou bem alto um homenzarrão de terno azul-marinho, parecendo estar muito elegante para a ocasião. Ele acabara de descer de um dos carros e começou a falar bem alto para que todos os homens de macacão azul pudessem ouvir:

-”As ordens são para vocês deixarem este terreno bem limpinho, pois aqui vai ser feita uma praça para as crianças do bairro brincarem.”

Os homens começaram a retirar o mato alto que encobria o solo, passando as foices de um lado para o outro.

Só se ouvia o zunir da lâmina cortando o mato bem rente ao chão. Logo em seguida vinha um outro trabalhador com uma enxada retirando as raízes por inteiro, deixando aparecer a terra original do terreno.

Assim continuaram a limpar o terreno até que se aproximaram da nossa sementinha, agora uma plantinha, ou melhor uma arvorezinha e pararam admirados diante dela.

-”Senhor, senhor....venha até aqui.”, disseram dois homens ao mesmo tempo.

O homem elegante, de terno azul-marinho se aproximou devagarzinho e ficou parado junto aos dois homens que o chamaram olhando fixamente para nossa arvorezinha da história.

-” Olhe senhor, com seus próprios olhos, o que acha desta pequena árvore?”

- “É muito jovem ainda, devemos arrancá-la e jogá-la junto ao mato que já ceifamos?”

O homem, olhou, olhou, e admirado pela beleza daquela plantinha tão novinha, pensou:

-”Esta árvore está bem no centro do terreno, acredito que não vá atrapalhar as obras da praça que será construída por aqui.”

Pensando isso, gritou bem alto: -”Venham todos aqui!”- tenho algo para lhes falar.

Continuou: - “Temos aqui uma pequena árvore, vamos dar-lhe uma chance de crescer um pouco mais. Pode ser que venha a ser uma árvore que dê alguma sombra às crianças que por aqui passarem.“

-”Portanto, continuem limpando o terreno sem tocar nesta arvorezinha.”

Dizendo isso, se afastou deixando os trabalhadores continuarem o seu trabalho.

À tardezinha, já quase noite, os homens foram embora deixando o terreno bem limpinho. O chão agora era marrom contrastando com o marrom-claro do tronco da nossa árvore e com o verde-escuro de suas folhas brilhantes.

Agora a árvore tinha um visão completa de seu novo lar. Ela sentia-se importante e responsável pela futura sombra que poderia dar às pessoas que por ali passassem.

Cada dia que passava, notava que mais folhas lhe apareciam e seu tronco continuava a subir cada vez mais alto. Agora ela começava a ficar mais encorpada, lançando galhinhos para todos os lados.

A praça começou a ser construída à sua volta. Já se via alguns bancos espalhados pelo local. Ruazinhas iam sendo feitas para as pessoas passearem ou para as crianças circularem com seus velocípedes ou patinetes.

Iam-se fazendo calçadas ao redor de todo o terreno e um cercado de ferro colorido foi colocado ao redor do tronco de nossa árvore.

E a nossa árvore continuava crescendo, sem parar, tanto para cima quanto para os lados.

Será que ela não vai parar de crescer nunca, diziam as crianças olhando para ela.

Realmente, nossa árvore estava ficando muito grande, diferente das outras perto dali. Suas folhas continuavam cada vez mais grossas, redondas e brilhantes.

Aquela praça tornava-se mágica à medida que o sol ia se pondo, pois seus raios transmitiam luz ao tocar as folhas da árvore.

Nossa árvore agora sentia-se muito orgulhosa de poder transformar os raios do sol em mais luz ainda, através do reflexo de suas folhas.

Assim que a praça ficou pronta, veio até uma banda tocar sob a copa da árvore. Estava inaugurada a praça. Pronto. A praça agora pertencia ao povo. Nossa árvore também.

Dia, após dia, vinham pessoas para debaixo da árvore a fim de usufruir de sua sombra e ali descansar um pouco. Eram crianças com sua mamães ou babás e velhinhos e velhinhas que encontravam um pouco de paz na sua sombra.

Logo muitas flores cresceram embaixo dela, abrigadas dos fortes e quentes raios solares. Desenvolveram-se tanto que lançavam aos borbotões seus cachos de flores por sobre a relva.

Logo a praça ficou muito famosa pela beleza que transmitia.

Portanto, aquela sementinha solitária, tornou-se inspiração para muitos, ensinando às crianças através de sua frondosa copa o quanto devemos respeitar essas nossas companheiras de vida ...por sua majestosa majestade, as árvores.


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Um comentário:

dani-danigirls.blogspot.com disse...

Mana,
Lindas histórias!
Parabéns!

Tea.